"mas", nada. eu realmente comecei o ensino médio. só que o primeiro dia de aula foi todo um trauma a parte.
na minha cidade, a escola de ensino médio em que estudei é a maior, ela também é uma das maiores do estado. em números, isso quer dizer que eram sempre mais de 1000 adolescentes estudando juntos de uma só vez. pra mim, uma experiência inteiramente nova, visto que estudei a vida toda em uma mesma escola que talvez não chegasse a ter uns 400 alunos por turno.
o pavor de tanta gente ao mesmo tempo, e tanta gente desconhecida, me fazia perder com facilidade o controle do meu intestino, mas eu continuava ali, vendo os veteranos se reencontrando depois das férias enquanto eu buscava algum rosto conhecido — que obviamente eu não encontrei.
em algum momento, uma senhora, que depois eu descobriria que era Tia Francisca, personagem folclórico da escola com o seu visionário olinho essencial de hortelã (lá em 2008 não era moda), assumiu o microfone e (talvez) depois de ter dado um boas-vindas geral informou que estaria falando o nome de todos os alunos dos primeiros anos e as salas para as quais eles deveriam se dirigir pra esperar o professor.
foram 6 turmas de 45 alunos chamados um por um pela Tia Francisca. eu, é claro, estava na última lista. ao fim da lista, algo ~especial~ aconteceu. quando Tia Francisca disse que iríamos para a sala 21, os veteranos começaram a gritar "porão, porão, porão, porão".
o que ocorre: a escola era divida em três pavilhões. os dois primeiros ficavam no nível da rua, o terceiro ficava abaixo do nível da rua e, na contramão da direção para onde o terceiro pavilhão se desenvolvia, havia duas salas, abaixo ainda do nível do terceiro pavilhão. a 21 era a última sala.
quando, finalmente, encontrei onde ela ficava, depois de descer todos os níveis, ir até à sala 19 e só então perceber a sala 20 na direção oposta ao lado de um corredor vazio que dava para um muro, notei que não tinha mais sala pra olhar.
por sorte, um rapaz passou direto pela sala 20 quando eu estava olhando e começou a andar no corredor vazio. lembro de não entender o que ele estava fazendo, mas aí ele parou de frente pra parede, olhou pra cima como se conferisse alguma coisa e, então, entrou na parede.
tinha uma pilastra na frente da porta, que a encobria por completo. só era possível ver de frente.
fui. vi. entrei.
a sala já meio cheia de desconhecidos. algumas pessoas que fizeram a 8ª série da minha escola de ensino fundamental foram pra lá também, eu sabia. nenhuma caiu na minha sala.
peguei uma cadeira e comecei a rabiscar qualquer coisa num caderno de nervosismo. o tempo passava e nenhum professor chegava. normalmente, isso seria legal. futuramente, isso foi legal. mas naquele momento, eu precisava de alguém adulto pra dizer o que estava acontecendo. e isso simplesmente não acontecia.
o que aconteceu, porém, foi a chegada de quatro veteranos na sala. um cara normal, um cabeludo e duas meninas excessivamente bonitas. eles saíram fazendo perguntas constrangedoras pra todo mundo. não lembro exatamente das perguntas, só que às vezes eles perguntavam "sexo?" o que deixando assim no ar é sempre confuso.
tinha gente que falava "menina", "menino", tinha gente que falava "hetero". todo mundo era hetero.
eventualmente, eles foram embora do mesmo jeito que chegaram e algum professor assumiu a classe.
quando eu cheguei em casa, minha mãe perguntou "como foi o primeiro dia de aula?"
e eu disse "legal".