deu errado. então, começando do início.

quando passei no mestrado fiquei muito feliz, mas pensando em de onde tiraria dinheiro pra custear as demandas que iam começar, viagem, alimentação, congressos, seminários, eventos, ansiolíticos, psicólogo, guias espirituais etc.

justamente por isso, investi 160R$ em um curso de revisão textual, leitura crítica e preparação de texto (muito bom por sinal) pra me inserir nesse mercado. seria um jeito de ganhar uma grana online, fazendo algo que eu realmente sei, sem vender cursos (o que eu também poderia fazer, mas é cansativo e exige certa dedicação), ludibriar as pessoas com papinho merda de coach ou, sei lá, abrir um onlyfans e ficar vendendo nudes com citações da Clarice Lispector.

terminei o curso, ajeitei meus links e coloquei a cara a tapa. depois de umas semanas, apareceu uma cliente. fiquei animado. "VAMO! DINHEIRO! AAAAA!" peguei o contato da moça, vou chamar de "cliente", mandei um Zap. as conversas todas demoraram muito pra ser respondidas, mas como eu não sou exatamente a pessoa mais solicita no whatsapp não achei ruim não. inclusive, sempre que alguém demora pra responder, eu fico feliz.

depois da primeira troca de ideias, a primeira brochada. a moça queria que eu revisasse e opinasse sobre umas poesias delas. nada contra poesias, ou contra poetas, tenho até amigos que são. mas é meio complicado fazer revisão textual de um gênero que pode ser tão flexível quanto a praticamente tudo. o que me fez pensar, pro meu desespero, que talvez a moça quisesse algo pior do que uma simples revisão textual: talvez ela quisesse uma opinião.

e foi isso mesmo. ela queria saber se o trampo tinha qualidade e se era publicável. quando falou isso, fiquei pensando que na pandemia alguém escreveu "kissing the coronavirus", um romance erótico que viralizou (RÁ!) contando a história de uma doutora que se apaixonou pela personificação musculosa e suada do coronavírus.

"AH! mas isso é autopublicação" você diz. the secret não é, e até hoje tem gente tentando atrair coisas com a força do pensamento. enfim, no fim das contas, a qualidade dos textos, nem sempre é determinante pra que algo seja publicado.

mas, vamos lá, primeira cliente, profissionalismo, contas pra pagar, dinheiro, vamos³.

procurei ser bem profissional mesmo — entendi o projeto da cliente, passei um orçamento, concordamos nos valores e tudo bem. porém… ela não tava com o arquivo dos textos pronto. me pediu uns dias pra juntar e me mandar.

uns dias depois, chegou no meu email. um documento com umas 15 páginas e poemas. agora, ficando um pouco mais técnico: na revisão e preparação textual, cobramos por laudas. as laudas são calculadas em cima de uma quantidade específica de caracteres que vão num documento de texto. então, por se tratar de pouquinhas páginas e ainda serem poemas, a quantidade de caracteres era pequenininha. daí eu já percebi que não ia ganhar nem perto de quanto, em geral, um profissional ganha com qualquer projeto.

fiz as contas e o projeto todo não ia fechar nem em 40R$. mas, compromisso é compromisso! passei o valor pra cliente. ela não mora no Brasil e disse que eu não precisava converter o valor pra reais. perguntei mais umas duas vezes pra ver se era isso mesmo, e fui.

pra receber, eu ia usar um site pra receber o pagamento, só que aí ela disse que o site tava cobrando uma taxa. fui camarada, e deduzi esse valor da minha taxa, deixando o valor pra cliente pagar em 25R$. eu tava feliz, de verdade, porque apesar de ser bem menos do que eu esperava, no câmbio, não ia ficar tão pouco.

a grana levava uns seis dias depois do depósito pra eu poder sacar aqui. quando deu o prazo, fui olhar o site e não tinha nada. tudo zerado. eu fiquei meio desnorteado. aí fui checar no histórico de transações pra ver o que aconteceu.

o site debitou uma taxa mínima pra efetivar transferências. o valor?

25US$.

eu poderia ter ficado com raiva e ter culpado todo mundo, mas decidi rir de nervoso e fazer a revisão certinha. afinal de contas, eu tinha aceitado o trabalho e a cliente pagou o que eu cobrei.

ninguém errou. a vida é que é uma merda mesmo às vezes.

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bjs e abçs

Xurrasquinho